Dos
palcos para o disco, Contracorrente lançou no final de 2013 o seu
primeiro registo discográfico, sob a chancela da d'Eurídice. O
espectáculo da d'Orfeu faz homenagem à música de intervenção mundial,
reunindo no seu primeiro EP homónimo cinco emblemáticas músicas,
incluindo o tema "A morte saiu à rua". Hoje a "remar contracorente", é
minha convidada Sara Vidal, a voz do projecto Contracorrente.
Portugal
Rebelde - A edição do EP “Contracorrente” tem como objetivo primordial
resgatar da memória e reivindicar para a atualidade algumas das músicas e
vozes da resistência que marcaram a História do séc. XX?
Sara Vodal - O
EP é apenas uma pequena amostra do espectáculo Contracorrente, que
nasceu no seio da d'Orfeu Associação Cultural com um impulso muito
conceptual sobre a actualidade da música de intervenção mundial, não
somente portuguesa. Há essa preocupação de resgatar a memória histórica
através das músicas que tocamos e de fazermos uma homenagem aos seus
compositores e cantores, mas paralelamente inspiram-nos a reflectir como
ainda hoje elas fazem sentido, isto é, têm mensagens e reinvindicações
muito actuais.
PR
- “A morte saiu à rua”, um original de José Afonso é um dos 5 temas que
compõe este disco. Em 2013 esta canção foi galardoada com o Prémio
Adriano Correia de Oliveira no Festival Cantar Abril, atribuído à melhor
recriação de canções de resistência. Quer falar-nos um pouco da
importância desta canção para o coletivo Contracorrente?
SV -
O reportório de Contracorrente foi concebido como uma viagem por vários
países, culturas e idiomas, em que cada tema aborda um determinado
conceito, como a Liberdade, o direito das Mulheres, a ditadura, a luta
dos povos indígenas, entre outros. No caso da música “A morte saiu à
rua”, é uma evocação a todas as vítimas do regime salazarista, porque
fala concretamente sobre o pintor José Dias Coelho, que foi assassinada
pela PIDE a 19 de Dezembro de 1961. O nosso arranjo também faz uma
pequena ponte com o “Cantar Alentejano”, recordando Catarina Eufémia,
também ela assassinada pelas forças do regime fascista. Então, por toda
esta carga simbólica e a mensagem que lhe é inerente, é um tema que tem
uma força particular.
PR - Podemos afirmar que o EP “Contracorrente” é um “manifesto” de que ainda hoje, resistir é uma forma de existir?
SV -
Sem querer ser um panfleto partidário, pretendemos despertar essa ideia
de que todos nós somos partícipes da nossa sociedade e que também temos
a responsabilidade de mudar as coisas para melhor. Se queremos
salvaguardar os nossos direitos, temos a obrigação de não calar as
injustiças, de sermos solidários e de trabalharmos em conjunto para
encontrar soluções. Não basta criticar os políticos nas conversas de
café e não pode ser o “salve-se quem puder”.
PR - Odete Ferreira, escreve no press release deste EP, que “cantiga é mina que mata. É remo contracorrente”. É mesmo assim?
SV -
O poema (lindíssimo!) de Odete Ferreira retrata muito bem o espírito de
Contracorrente e, sem dúvida, que a cantiga, a música, é um veículo de
expressão com muita força, através do qual podemos denunciar, criticar,
reinvindicar ou mesmo enaltecer muitas situações. Se durante os regimes
fascistas do século passado havia a necessidade de o fazer mais
subtilmente, hoje em dia podemos fazê-lo de forma mais directa, mas
sempre sem perder esse poder comunicativo que a cantiga tem.
PR - Para terminar, depois da edição deste disco, podemos esperar que continuem a remar contracorrente?
SV -
Acima de tudo, esperamos que venha uma maré alta de prosperidade e
justiça social, mas certamente que continuaremos a remar e a recriar
novas músicas. Quem quiser juntar-se à tripulação, pode acompanhar-nos
na nossa página web www.dorfeu.pt/contracorrente.
Portugal Rebelde | 18 Janeiro 2014
Sem comentários:
Enviar um comentário